Quais os tipos de dispersão de sementes?
- Bruna Pina
- 12 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Explica Anta!
Olá, jardineiro!
Na excursão de hoje, a anta vai te guiar e explicar alguns dos porquês da ecologia.
Durante o trajeto falaremos sobre os tipos de dispersão de sementes.
As plantas possuem mais de uma maneira de dispersar sementes? Explica Anta!
Meu conhecimento vou compartilhar e pelo caminho irei te explicar.

Todos aqui na floresta possuem interações com o meio e uns com os outros. Seja bicho, fungo ou planta, estamos todos, de alguma forma nos ajudando. Quando tudo está em equilíbrio, as coisas funcionam muito bem. Nossa meta é sobreviver, ou seja, procurar comida e ter muitos filhotes para espalhar por aí.
Como as plantas não podem sair por aí para espalhar suas plântulas no mundão afora, elas desenvolveram uma estrutura reprodutiva chamada diásporos... pode ser um nome diferente mas você sabe o que é. Estes são considerados unidades de dispersão, que podem ser sementes, frutos, partes da planta ou a combinação desses [1]. Hunmm! Os deliciosos frutos. Mas calma, vamos chegar lá. Por agora, focaremos em sementes.
A dispersão de sementes, geralmente, é uma das etapas mais delicadas do ciclo reprodutivo, pois elas devem chegar em locais com condições adequadas para germinarem longe da planta-mãe. As espécies vegetais utilizam algumas estratégias para “lançar” suas sementes para longe... e quanto mais longe da planta-mãe, melhor, pois reduzirá a competição e o risco de predação [2]. Para que isso ocorra, os vegetais interagem com agentes abióticos (vento, água e gravidade) e bióticos (animais) do ecossistema para distribuir as sementes no ambiente, garantindo a perpetuação da espécie [3].
Se uma árvore possui frutos deliciosos e sementes grandes, como ela enviaria suas sementes para outro lugar? Sabemos que nem todas as sementes e frutos são iguais, elas possuem características únicas como coloração, tamanho, presença de estruturas como alas e plumas, ou frutos com polpas suculentas, nutritivas, etc. Para cada conjunto de características morfológicas há uma forma diferente para dispersá-las, através de transportadores físicos ou biológicos. A maneira como isso vai acontecer é chamado de síndrome de dispersão [1, 3, 4].
Ei jardineiro, já identificou na rota alguma dispersão acontecendo? Vou te mostrar algumas das estratégias que as espécies vegetais utilizam para disseminar suas sementes pelo ambiente.

À nossa frente, vemos essas plantas que se desenvolvem próximo da água e possuem sementes e frutos com grande capacidade de flutuação e, ainda, duram bastante em ambiente aquático, tal como os coquinhos das palmeiras. As correntezas levam as sementes para looonge. Essa estratégia de dispersão é conhecida como hidrocoria.
E percebam como o vento balança a vegetação. Algumas plantas aproveitam esse vento e o transformam em transportador de suas sementes. As sementes são mais leves e possuem algumas estruturas adaptadas para serem levadas para longe pelo vento, como as sementes do ipê e do dente-de-leão. “Voam, livres, leves e soltas”. Essa dispersão se chama anemocoria.
Agora sim, chegou a dispersão mais esperada e apetitosa do trajeto. Digo, a dispersão em que as sementes são transportadas pelos animais, a zoocoria. As sementes cujos frutos são saborosos, nutritivos e cheirosos. Aahh, os frutos! Os deliciosos frutos! E claro que essas características atraem muitos de nós, os animais. Podemos disseminá-las, por exemplo, carregando na boca (sinzoocoria), ou após a ingestão e as liberamos pelas fezes (endozoocoria). Eu mesma, sou uma agente dispersora muito ativa nos ambientes que habito. Mas na próxima excursão, explicarei mais sobre isso. Há também sementes que possuem estruturas como velcros, grudam nos nossos pelos e nem percebemos, e os carregamos a looongas distâncias (epizoocoria).
A zoocoria também recebe vários outros nomes de acordo com o animal dispersor. Por exemplo: formigas (mirmecocoria), peixes (ictiocoria), répteis (saurocoria), aves (ornitocoria), morcegos (quiropterocoria), mamíferos (mamaliocoria) e até mesmo por vocês, humanos (antropocoria).
Existe, ainda, um tipo curioso que consiste na dispersão provocada pela própria planta, conhecida como autocoria. Neste, a planta se abre espontaneamente, liberando suas sementes para longe. Como é o caso da mamona, seus frutos literalmente estouram e liberam a semente. Buum! E é semente pra todo lado!

Essas diferentes estratégias podem variar de acordo com o ambiente, o estágio sucessional e o tipo de vegetação [5]. Em florestas neotropicais, a dispersão zoocórica, é crucial, pois 90% das árvores possuem frutos, que podem ser consumidos por animais [6]. Portanto, a fauna é determinante para a manutenção das comunidades arbóreas, em longo prazo.
É fascinante como as plantas utilizam diferentes mecanismos para espalharem suas sementes por aí, não é mesmo? Observou como as interações no ambiente são importantes? Se as coisas desandam, tudo se desequilibra. Então, cultive essa ideia e disperse conhecimento. Até a próxima!
Abraço de Anta!
Referências
Pijl, Van der, L. Principles of dispersal in higher plants. Berlin: Springer-Verlag, 1969. 154p.
Howe, H. F.; Smallwood, J. Ecology of seed dispersal. Annual Review of Ecology and Systematics, n.13, p.434-436, 1982.
Venzke, Tiago Schuch et al . Síndromes de dispersão de sementes em estágios sucessionais de mata ciliar, no extremo sul da Mata Atlântica, Arroio do Padre, RS, Brasil. Rev. Árvore, Viçosa , v. 38, n. 3, p. 403-413, June 2014 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-67622014000300002&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Feb. 2021. https://doi.org/10.1590/S0100-67622014000300002.
Barbosa, J. M. et al. Ecologia da dispersão de sementes em florestas tropicais. In: MARTINS, S.V. (Ed.) Ecologia de florestas tropicais do Brasil. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2009. P.52-73.
Howe, H. F.; Smallwood, J. Ecology of seed dispersal. Annual Review of Ecology and Systematics, v.13, p.201-228, 1982.
Tabarelli, M.; Peres, C. A. 2002. Abiotic and vertebrate seed dispersal in the Brazilian Atlantic Forest: Implications for forest regeneration. Biological Conservation. 106:105-178.
Texto por Bruna Pina